quarta-feira, 6 de julho de 2011

Porque eu não quero um iPad (ainda)


Quando inventaram o cinema falado, um “gênio" alertou: “Vai ser um fracasso, as pessoas não vão mais poder dormir no cinema!” Penso nesse cara toda vez em que aparece alguém querendo ser visionário. Gente que adivinha o futuro costuma falar muita bobagem. Ok, dizem que o iPad é o futuro. E dessa vez acredito que os visionários acertaram. O problema é que esse “futuro” me assusta. Por quê? Cito duas cenas reais:

Supermercado, oito da noite. Na minha frente na fila do caixa, um clone da Fernanda Young, com aquela indefectível cara de cu, fuça no seu Ipad enquanto espera com ar blasé a operadora passar as compras. O que ela estaria fazendo de tão importante no aparelinho? Trabalhando? Não: jogando Farmville. As cenouras não podiam esperar cinco minutos? Aparentemente, não.

No dia seguinte, vou a uma padaria. Ao meu lado, senta-se um sujeito que parecia ter tirado sua roupa do catálogo do “publicitário moderno”: camisa quadriculada, munhequeira, piercing e óculos escuros gigantes – corto meu pulso se ele não era “produtor” ou “designer”. O cara não desgrudava do maldito aparelho nem para pegar pão de queijo. Lia como se estivesse descobrindo o sentido da existência. Sartre? Tolstoi? Não, Revista Caras.

Excesso de conectividade não nos transforma, necessariamente, em pessoas mais produtivas ou inteligentes. Pode nos deixar mais boçais e fúteis. Shakespeare não tinha nem uma máquina Olivetti para escrever. Se usasse um computador talvez ele tivesse perdido o tempo jogando paciência. Não sei.

Não embargo fácil em novas manias. Aposto que na Alemanha da década de 30 muita gente viu aquela molecada loira com um braço levantado e suástica no peito e achou que fosse a nova onda. 10 anos depois eles descobriram que nem toda “nova onda" é uma boa. Talvez o sujeito que inventou a roda se arrependesse da invenção se descobrisse as barbaridades que fazemos no trânsito hoje.

Eu sei, o iPad é sen-sa-ci-o-nal, posso ler livros do mundo inteiro, etc. Eu vou acabar comprando um. Mas não sou do tipo que adere a qualquer novidade logo de cara. Sou geneticamente cético. Demorei um pouco para ter celular, twitter, etc. E, mesmo assim, já falei muito mal deles neste post e neste aqui. Prefiro que todos sigam bovinamente a nova mania. Se não resultar na Polônia invadida, ai beleza, eu embarco.

Por: Walter Carrilho

A vídeo do pandinha espirrando é fofo. Mas eu não preciso vê-lo na fila do banco, certo?


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